sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Meu carnaval pernambucano com paracetamol - Parte final

Quarta de cinzas. Que tristeza que deu. As pessoas tinham ido embora. As ruas estavam vaziiiiiias, perto do que tinha sido. Os trompetes tocavam meio isolados. Me deu certa melancolia. Passou tudo tão rápido! De manhã fomos no mercado do Recife. Você sabia que é o mais antigo da América Latina? Nem eu. Lembranças pra quem está em Goiás, minha mãe e Paulinha acharam que o mundo ia acabar em artesanato, Tia Clara em colar. Mas eu juro que não suportava mais o cheiro de mer** daquela cidade.

De tarde fomos atrás do tal do bloco dos artistas que tocaram no carnaval. Eu mesma não vi um nesse bloco. Mas pelo menos acompanhei um bloco por um bom percusso no carnaval. O abusado do Rodrigo foi até o fim tocando a caixa de alguém que ele tomou. E além disso vi o Siba pelas ladeiras (suspiros, rs). Na prefeitura, parecia ser terça, segunda, domingo ou sábado de carnaval. Mais umas rodadas por uns blocos, assistimos a uma apresentação do tal do 'boizinho' e fomos pra casa (aquele ritual) pra voltarmos para vermos mais delas.

Bruna tinha sido pega pela doença ruim de Pernambuco. Tava acamada. Miti e Paulinha há dias também estavam no mesmo (super) pique que eu. Bem, a verdade é que o colchão, a novela, as baboseiras, o cochilo pegaram nós quatro. Mas foi muito divertido. Sabe, quando se ri à toa? Quando há uma sintonia sem motivo? Foi isso. Perdemos Quarteto Olinda, os boizinhos, e ganhamos horas de sono. Afinal, quinta-feira nunca foi de carnaval, era hora de voltar pra casa e encarar que 2010 começou. E tá aí, louco pra me engolir.

Meu carnaval pernambucano com paracetamol - Parte V

Segunda foi dia de praia. Porto de Galinhas o destino. Bem, acho válido lembrar e fazer uma leve propaganda aqui. Ir pra Recife, significa estar ao lado de Olinda, 50 minutos de Ilha de Itamaracá, 1h20 de Porto de Galinhas, mais 20min chega em Ilha do Carneiro. Além de 1h30 pra cima e você está em João Pessoa. Chega um poquim mais pra riba e está em Natal. Ainda não tive oportunidade de conhecer tudo, mas quero um dia. Bem, aproveitamos disso, alugamos van, enchemos de gente e fomos pra tal de Porto de Galinhas.

Bem, particularmente eu achei Itamaracá bem mais bonito. Mas, confesso que vacilei, quis dormir um pouco antes de ir desbravar a praia e quando é fé (adoro essa expressão goiana, muito utilizável) a fila estava gigaaante para pegar jangada para as piscinas naturais. Mais um pouco, muito vento, e as jangadas nem sairam mais. Bem, não conheci as tais piscinas. Fiquei ali naquela aguinha quentinha, sem onda, azulzinha, me refrescando. Quero destacar que há muito tempo não ia minha família toda pra praia. Isso é algo importante na vida de uma família de classe média (rs). Bem, no mais... repito, praia é isso aí. Voltando pra casa, minha amiga indisposição me chamou pra ficar com ela em casa e deixar de ir assistir ao show do Eddie no Fortim. Prontamente, aceitei seu convite.

De noite fomos no Recife na tal noite dos tambores silenciosos. Em 2009 choveu muito, tinha água suja, nojenta, até o joelho. Mas achei tudo lindo. É uma celebração com uma pegada candomblé e muitos grupos de maracatu. Vejam só, essa vez, até a gente conseguir chegar no local, andamos muuuuuuito. E fedia demais! É muito descuido com saneamento básico, com higiene. Vocês vejam como fiquei enjoada de um ano pro outro. Em um, não me importo com água de esgoto no joelho e muita chuva. No outro, não aguento nem o cheiro. Meu pai, tadinho, andava dando ânsia e apelidou, carinhosamente, o estado de Pernambucoco. Minha mãe é assim: adora muvuca de Olinda, aquela coisa que nao dá pra se mover. Mas em Recife não gostou. Resumindo, essa noite foi meio fracasso. O fedor e a muvuca nos repeliram da cidade. Ok, meu paracetamol me esperava em casa.

Terça. Pois é, terça é mesmo o último dia mais movimentado de carnaval. O carnaval começa bem antes, mas quando ele acaba, acaba mesmo. Quando chegarmos na quarta explico melhor sobre isso. Mas terça já tinha um ar de despedida, apesar de ninguém da casa ainda estar indo embora. Nesse dia totalizávamos 8 doentes na casa. Juntamos eu, Artur, Ayana (namorada) e Paulinha e fomos juntos tomar um soro no posto pra conseguir subir ladeira. Ayana assustou com ambiente e correu da agulha. Eu, Pablita e Tutu ficamos ali, com soro na veia! Competindo quem acabava primeiro. Paulinha ganhou, mas teve que voltar pra tomar mais. Eu e Artur tivemos alta. Não vou esquecer da frase da Paulinha: "Ê, gente! Antes estar aqui pra tomar glicose, né?". Né? Carnaval a gente espera esse tipo de coisa. Soro não!

Botamos nossos abadás e fomos pra rua. Muita gente, muito bonecão, muito frevo, muito confete. Daquele jeitinho que descrevi na parte I. Uma pausa no restaurante oásis no meio de Olinda, nos livrando de fedor, barulho e muvuca. (Engraçado, quando você tá curtindo não há fedor, o barulho é som, e muvuca é gente). Mais umas perambuladas por Olinda (que a essa altura do carnaval fedia demais!).

A noite, no Pátio São Pedro, que guarda seu charme a aconchego, me reservou grandes emoções: show da Renata Rosa. Bem, assistir ao show dessa cantora é muita emoção na vida de uma coquista. Mári que o diga que chorou o show inteiro. Fiquei na frentinha. Eu não queria nem cantar muito as músicas junto pra admirar mesmo cada voz. Nem dançar muito coco, pra não perder nenhum movimento das performances, do jeito de tocar daquele grupo. É, Renata Rosa é a estrela, mas ela tem várias estrelinhas em palco que ganharam minha admiração. É... muito lindo e ali era uma das coisas que faziam valer minha viagem. Dali, show do Original Olinda Style no Recbeat. Maciel Salú, Eddie, Orquestra Contemporânea de Olinda. Que sonzera! Mas lá veio a chata da minha amiga indisposição me chamar pra casa. E fui. No outro dia era o menos desejado pelos pernambucanos: o último (?) do carnaval.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Meu carnaval pernambucano com paracetamol - Parte IV

Domingo, mais uma vez, eu estava muito indisposta. Enquanto as pessoas iam ficando na casa, eu ia também. A partir desse dia foram aparecendo mais doentes. Uns com sintomas parecidos com meu, outros com gripe, outros com 'piriri'. Preocupei com isso, na verdade. A casa já estava num ritmo um pouco lento, por fim, sempre o grupo estava desfalcado. Juro que nesse dia quis subir ladeira com meus pais, minha irmã, minha tia. Mas fiquei com a cama e meu paracetamol. Mais tarde vestimos nossos abadás (sim, nem vem, era abadá) e fomos pra rua. Na verdade pessoal ficou pra trás, fomos eu e a Paulinha, encontramos meus pais, ficamos ali admirando a muvuca. Por curiosidade, fui no posto de saúde. Tava ali perto mesmo. Muita gente com coma alcóolico e outras cositas más. Fui abrir meu coração com a médica sobre nossa situação e em particular a minha. Fiz o tal exame do laço, ela ficou confusa no número de pintinhas vermelhas, mas escreveu 'dengue' no papel e me pediu exame de sangue. Essa informação, em pleno domingo de carnaval, foi segredo (meu) de Estado até quarta. Não acreditei, fingi que não era comigo e depois do passeio, uma cama, um banho e um paracetamol antes da noite.

Sim, DA noite. Eu levantei, sabendo que estava sendo teimosa. Tudo doia, muita vontade de deitar. Mas sabe, era Pandeiro do Mestre, Coco Raízes e Jorge Ben Jor. E sou uma proletária, férias não é coisa que se tem todos os dias. Muito menos dinheiro pra chegar até Pernambuco. Eu sei dar valor às oportunidades. Os shows aconteceriam num pólo descentralizado chamado Nova Descoberta. Em 2009 falaram pra gente não ir, que seriamos assaltados com certeza. Esse ano resolvemos ir. O táxi foi se enfiando nos morros. Goiânia não tem favelas, tem periferias. Eu nunca tinha entrado num morro. Eu nunca tinha visto uma pobreza assim, de perto. Digo os botecos, as ruas, as casas. Era morro mesmo. O taxista chamou de 'favela urbanizada', que nem ele sabia chegar direito. Mas chegamos e sinceramente, o melhor polo que fui no carnaval! Muito grande, muito ar (precisa-se em Recife, tudo fede muito), muita família, muita gente que tava ali pra brincar carnaval. E tinha mesas e cadeiras, o que era ótimo caso eu não conseguisse mais curtir show de pé. Mas esse dia, ignorei mesmo a indisposição. Eu e meu paracetamol dançamos muito no show do Pandeiro do Mestre. Foi quando Reizim me disse: "Nádia, jajá a gente sobe!" e riu. Eu ri junto, pensando: "Ah tá!". Mais um tempo, Rodrigo: "Bora, Nádia! Vamos subir". E a gente subiu mesmo.

Tocar Coco de Goiás num pólo de carnaval numa favela em Recife, Pernambuco, berço coquista. Eu não sabia medir a emoção. As carinhas de orgulho dos amigos lá embaixo. De surpresa dos pernambucanos. De deslumbrados dos passarinhos. E de carinho dos membros do Pandeiro. Era muita gente, foi muita emoção. "Estão batizados", bem disse João com todo seu sotaque, produtor do grupo. Depois vem um pouquinho de Coco Raízes. Eles chegaram atrasados e tocaram pouco. Mas nunca os vi tão deslumbrantes. Eu tava apaixonada! Sensibilidade à flor da pele. Mas estava tudo redondamente perfeito entre eles em palco. Mas logo eles sairam pra dar espaço pra Jorge Ben. Desde junho, quando ele se apresentou no festival de inverno de Brasília, que não fui, mas toooodos meus amigos foram, eu queria muito ver um show! E vi, finalmente. De pertinho, bem espaçoso, tranquilamente. A noite já tinha valido. Ou não? Fomos convidadas pra dançar em palco com ele: eu, Bruna, Luanas, Izabela, Mariana, Paula... e fomos! Foi divertido, engraçado. Um pouquinho de vergonha (sério). Mas adorei dançar forrozinho com ele. Tá na história. Bom, tá bom por domingo. Hora de cama e paracetamol!

Meu carnaval pernambucano com paracetamol - Parte III

Quinta-feira é o dia do lançamento oficial do Carnaval de Olinda. Sabe? Muito importante na vida de uma foliã de Goiânia. Fui pro Alceu Valença fingindo que meu corpo doia do forró e a indisposição vinha da ressaca. Mas estava muito cheio. Muito mesmo. Mais do que no ano passado. Era o caos, na verdade. Não conseguia chegar no lugar. As ruas eram divididas por táxis, ônibus, gringos, locais, ambulantes com batatinha ou cerveja, mendigos e pessoas doentes em cadeiras de roda. Isso me deu agonia, por um momento, mas cheguei no Alceu. Fiquei meio longe, muito apertada, comprei um latão, corpo amoleceu. Pensei: não vou conseguir assistir ao Mundo Livre. Corpo foi doendo mais, mal-humor foi subindo, larguei latão e pensei: acabando Alceu, assim que minha mãe ligar pra alguém ir recebê-la na casa eu vou. Mas aí não tinha mais graça nenhuma o show, nem as pessoas, nem latão e eu tava mesmo passando mal. Foi quando fui pra casa. Pijama e cama: preciso dormir, pensei. Minha mãe chegou, toda eufórica, me abraçando. "Nááááádia, você tá pelaaaando de febre! Banho frio já". Ela revezava sua preocupação comigo com seus goles na cerveja que tinha pego no freezer. Na verdade, assim foi até o fim do carnaval, incluindo que eu disputei atenção com os blocos de Olinda. Coitada da minha mãe. Custo a tirar a mulher de casa, botar pra viajar, fazer farra e a filha adoece. Ainda bem que ela não fez disso um impecilho pra curtir a viagem.

Bem, a partir daí veio muito paracetamol, muita água, soro, água de coco e cama. Muito suor, muita indisposição, muita dor de cabeça, boca amarga. "É, dengue!", uns diagnosticaram. Vontade de ficar na cama. Vontade de ficar deitada. Vontade de nem sair dali. Foi assim sexta. Dinterim. "É insolação!", minha mãe tinha certeza. Acreditei em mamãe e não levei isso à sério. Descansar sexta, porque sábado a programação tá quente! Tentei ir na abertura do carnaval de Recife. Naná Vasconcelos e os 700 batuqueiros de maracatu. Sabe, não vi graça dessa vez. Não é microfonado, você não ouve direito, não enxerga a emoção, nem sente o batuque. Achei que era mau-humor meu, mas muitas pessoas concordaram. Uffa. Pessoal esse dia foi pra casa onde turma do Coco Raízes de Arcoverde estava hospedada e aprenderam a dançar as tamancas. Essa eu perdi mesmo.

Sábado acordei melhor. Sabia que não tinha sarado, mas queria me convencer disso. E principalmente os outros. Fiz almoço, me banhei em protetor; dá-lhe chapéu, óculos e rua! Blocos, blocos, alto da Sé, Coco Raízes, Pólo do Samba e até umas cervejinhas. A noite caiu, minha energia tb, a febre subiu. Era a hora do banho, cama e paracetamol. Perdi Coco do Amaro Branco, atravessei a rua onde casais gays se pegam em Olinda rindo do moralismo da mãe e da tia, e fui pra casa. 23h levantei. Digo, eu, minha vontade, meu espírito. Meu corpo queria ficar ali na cama mesmo. Fingi que não era comigo, tomei meu paracetamol e fui pro Siba! Não era Marco Zero, não estava lotado, o que já garante um show mais agradável. Ah! Importante! O táxi chegava perto! Em Olinda se anda MUITO. Mas muito mesmo. O táxi te levar na boca do palco em Recife é luxo. Depois de Siba e a Fuloresta, deixei Jorge Ben Jor pro domingo. Minha saúde não me permitia infinitar. Papai, que tinha acabado de chegar em Recife, não reconheceu o desânimo da filha quando o encontrei em casa. Ele, nem eu, só não sabíamos que eu continuaria quietiiiiinha!

Meu carnaval pernambucano com paracetamol - Parte II

Em 2009, fato, o carnaval me impressionou e encantou mais. Mas, toda primeira vez tem seu valor único. Eu não conhecia nada. Eu nem tinha ideia de nada que me esperava. Foi quase como quando fui pela 2a vez à praia (a primeira eu não lembrava, nem de mar eu gostei), para Bahia, e só imaginava um coqueiro e um mar de desenho. Tudo foi tudo muuuuuuito mais legal, claro.
Bem, eu não sabia que o povo pernambucano era tão cultural e tão simpático. Também não sabia que TODO MUNDO MESMO participava do carnaval. Nem que ele era tão importante na vida da cidade. E também não tinha ideia do que era um carnaval popular - do povo, para o povo, pelo povo. (Ai, que fala política bonita).

Na verdade eu não tinha idéia que os caboclinhos significavam apresentações bem coloridas e ritmadas indígenas. Nem que o maracatu rural tinha um ritmo tão legal e os caboclos eram tão bonitos. Eu nem sabia que tinha dois tipos importantes de maracatu, pra falar verdade! Não tinha ideia que ia me encantar com aquela família real. Muito menos que tinha 9283091283 apresentações dessas por dia! Os blocos de frevo... hmm... okay. Talvez eu soubesse que tinham muitos. Mas não tantos. E o frevo, certo, é lindo! Mais lindo é ver todas as crianças dançando. Mas aquele 'pananananãããã', de fato me 'aperriou'.

Sabe, gente. Eu sou de Goiânia. E nossa cidade, bem... minha irmã está certa, ela é uma cidade do interior grandona. Eu nunca fui acostumada a ver tanto show de gente tão legal em tão poucos dias. Deslumbrei. Falei. Lenine, Maria Rita, Nação Zumbi com Siba e a Fuloresta, Caetano, Naná Vasconcelos, Alceu Valença, Elba Ramalho. Agora, ver os grupos de coco que eu só conhecia de ouvir, juro que nem de ver; entender o que É o coco, culturalmente falando, praquele povo. Meu Deus. Muita emoção musical e antropológica.

Mas, afinal, é pra falar do carnaval 2010, né dona Nádia. Bom, a verdade é que sai de lá em 2009 com a certeza de voltar em 2010. E eu tenho a chatice ou virtude de ficar tentando convencer as pessoas a compartilhar comigo o que EU acho muito legal. Os Passarinhos também, na verdade. E por isso esse ano, foi diferente! Pai, mãe, irmão, namorada dele, tia, amigas, amigos-parceiros dos passarinhos, passarinhos (menos a sem graça da Iúna).. enfim! Éramos 17! Talvez dedicaria umas linhas pra falar do prazer que é viajar com a Michelle, ou companheirismo que é estar com a Paulinha ou do fogo-no-rabo de mamãe em Olinda. Mas são 17 pessoas e não dá.

Bem, quarta-feira, já éramos 14. A cidade já estava em carnaval. Claro, ela estava desde o reveillon. Mas sabe, ir em frente à prefeitura, os mamulengos acabando de serem montados, os blocos já estão nas ruas, os bonecões também, e claro, os latões skol a R$2,00 (saudades, Pernambuco!). Eu tava mais feliz de estar com aquelas pessoas ali, e ir mostrando as coisas, porque eu, muito abusada, sempre me sinto uma local nesses lugares. Ver o mar de Olinda. Ah, o mar de Olinda! Maravilhoso do Alto da Sé, muito fedido e feio do Fortim, e perigoso de qualquer praia por ali (tubas... os tais tubarões). De noite, chegamos atrasado pro show do Siba. Sem chorar, sábado tem mais. Bem, pelo Fortim (não leia fortxim, que nem goiano, mas fortim, com tê de rato), onde acontecem principais shows de Olinda, a coisa ainda tava transitável, você podia ficar perto do palco e logo de entrada: SpokFrevo. O jáz (jazz, como eles falam) com frevo; o erudito mais popular que há. Os metais com maior malemolência do mundo. É de ver, de bater palma, de dançar, de babar. E o Carlinhos Brown depois... bem, aquele seu axé, seu cocar, e seu repertório tribalistas me fez correr pro Xinxim da Baiana. O forró de toda quarta-feira com Quarteto Olinda.

Sabe aquele CD furado de tanto ouvir? Eu sou péssima em decorar letras, mas juro que sei muitas do Quarteto Olinda, e melodia de todas. Sabe ter muita vontade um ano todo de um forró daqueles. Pois bem, eram eles, ali, no lugar bem aconhegante. Até dar meia noite e não parar de entrar gente. Chegamos, estava vazio, encontramos alguns coquistas conhecidos e me senti em casa. Tirei a sandália e rodopiei o salão inteiro. Eu me entreguei ao forró, ao chão sujo, à rabeca, e até a porcaria da cerveja Nobel, que me rendeu ressaca na Ilha de Itamaracá no outro dia. A ilha é linda. Mesmo. Ainda mais depois de dormir um tempo por lá, beber uma coca, superar a ressaca e começar o dia.

Praia não tem muito o que falar né. Pensou? É isso aí. Mas tem algo diferente que quero falar. Imagine alguém que vá pela primeira vez ao Rio, em Ipanema. Lógico que pensa: imagina o Tom Jobim aqui, sentado ali, bebendo, falando de mulher e compondo. Você nunca veria isso. Óbvio. Mas imagine só. Ouvi a palavra Itamaracá pela primeira vez nas cirandas de Lia. Seria demais ver a Lia, na praia em Itamaracá com crianças coloridas dançando ciranda e ela cantando né? E não há de ver que a dona Iemanjá tava lá, desse jeitinho, gravando pra Band. Sensacional. Mas minha disposição toda, aquela menina esbanjando energia começou a mudar no início da noite dessa quinta. As dores nas pernas pareciam não corresponder ao tanto de forró da noite anterior. A indisposição não batia com a ressaca que já era pra ter passado. Mas foi nessa noite mesmo que descobri que não era dor de forró, nem ressaca.

Meu carnaval pernambucano com paracetamol - Parte I

Blog, querido blog. Como te evitei, não é mesmo? Mas o tempo passa, a gente acaba se aproximando mais de ser jornalista e se afastando de ser estudante e certas coisas devem se tornar hábito, simplesmente por escolha de vida. Talvez se eu tivesse resolvido ser nutricionista ou quem sabe administradora, isso não tivesse que fazer parte do meu ofício.

Deixando de lamentação e sem soar como obrigação escrever aqui, apesar de meu 2010 ter começado com muitas coisas interessantes a serem ditas (sejam coisas em minha cabeça, sejam fatos externos) vou falar do Carnaval em Pernambuco 2010. Pausa. Você deve ter pensado em muita cerveja, muito colorido, muito confete, muito frevo, muita bagunça, muita gente, muita ladeira, muito sol, bonecos gigantes. Pois bem, carnaval em Pernambuco tem disso mesmo, e tem mais, e no meu caso, o meu foi diferente. E quero falar do início da viagem. Início de começo mesmo, assim do aeroporto.

Sim, acho digno falar do aeroporto e de 'andar de avião'. Eu gostaria de nunca me acostumar e perder o encanto em 'andar de avião' (eu gosto de falar essa expressão, acho bonitinho). Gente, por mais que nossa rodoviária seja melhor que nosso aeroporto, viajar de avião é sim muito mais dignidade. Não só pelo tempo. Você não é tratado da mesma maneira num check-in ou embarque, que num balcão de rodoviária. (Apesar de ter ficado admirada com a rodoviária do Rio nesse reveillon). Aeromoças parecem anjos! Pela beleza e pela educação. (Apesar de nunca entender porque refrigerante vem sempre quente e com gelo). Tudo funciona, deve ser uma das únicas coisas no país que você tem que ser pontual, porque eles não vão arrumar um jeitinho. Tudo dá certo, mesmo porque quando dá errado... bem... que bom que deu tudo certo comigo.

Mas o que eu queria falar, dessa vez, é que tive uns pensamentos diferentes. Além do pensamento corriqueiro: 'como esse trenzão consegue sair do chão', tive alguns outros naquele momento de decolagem e que a gente de repente enxerga coisas que nunca enxergaria com pés no chão. Primeiro fiquei lembrando do Lula falando o quanto obras paradas dão prejuízo pro país. É... como estagiária de vereador me senti na vontade de cutucar pra que a gente faça algo pra que aquele aeroporto, de uma vez por todas, seja digno de sua capital.

Depois eu fiquei pensando como eu não me sinto na vida real dentro do avião. Daí o aeroporto seria o limbo. Quando entro em uma pra viajar (e não receber ou mandar gente embora), eu me sinto saindo da vida real, porque, de fato, estou saindo da rotina (ainda não sou jornalistabemsucedida que viaja a trabalho). E sinto também em todas as pessoas por ali. Mas quando eu finalmente estou no ar, eu tenho certeza que estou fora. Eu saio da vida e caio direto no Google Earth. Aqueles carrinhos lá embaixo, pra onde estariam indo? Aquelas casinhas... que que as pessoas fazem ali? A GO que segue pro Campus, simplesmente parece que aquilo não me pertence, que nem por ali eu passo todos os dias. E quanto mais se distancia, menos vida eu sinto, menos rotina, é tudo mapa, e finalmente estou fora.

Voltando pro limbo, dessa vez em Brasília, me deparo com um lugar muito cheio. É muita gente. De todo jeito. Gente com cara de político, de empresário, de jogador, de funcionário público, de emergente, de estudante, de nada... sabe, gente com cara de nada? Que vocês fazem aqui em plena terça, ein gente? Tá todo mundo de férias que nem eu? E você, ein tio. Todo de terno indo pro Rio em semana de carnaval? Uhum... tá! Não demora muito, depois daquelas coxinhas caras e horríveis, que insisto em comer, tive o imenso desprazer de me sentar ao lado de um garoto carioca de 15 anos que me importunou até Recife. Não, não é uma viagem rápida. E vocês não imaginam o meu prazer e facilidade em dormir em viagens. Daí imaginem o desprazer em ter alguém, como descrito acima, puxando papo comigo. Eu, que levo até travesseiro pra dentro do avião.

Juro que nunca me incomodei em parecer 5 anos mais nova. Ou mais. Mas quando comecei a reparar que o pirralho me confundiu com alguém da idade, e estava dando em cima, importunando meu sono, ah... eu me irritei. Mas e quando ele descobriu minha idade, que eu namorava, e continuou a me importunar? Aí concordei que carioca é abusado mesmo!E ainda era evangélico. Ahan, tá! Lembrei da minha amiga Débora, deveria ter usado a frase que ela tanto gostava de falar quando ele falava alguma abobrinha. "Olha, eu penso assim, não sei os crentes". Bem, chamaria a aeromoça pra trocar de lugar, se eu não soubesse usar, oportunamente minha grosseria. "Qual parte do eu-quero-dormir você não entendeu?". A parte do 1h30 depois de me deixar em paz, antes de descer do vôo, tirar uma foto minha. Bem, eu só queria desabafar, talvez. Vamos para o carnaval!