sexta-feira, 5 de março de 2010

Uma aula que incomodou

Esse semestre vivo uma situação, digamos nostálgica, mas que acabou me causando preocupação mesmo. Estou tendo aulas na Filosofia com o professor que me deu aula no primeiro semestre de faculdade. Bem, a verdade é que ele me fez lembrar que eu estou no 4º ano de universidade (não necessariamente que vá formar esse ano, ok? Deixo isso pra 2011). Isso quer dizer que eu, supostamente, deveria dominar sobre juízos analíticos, soberania, moral, eu-trascendental, biopolítica e todas essas coisas. O que não ocorre. Mas, por outro lado, estar de novo com ele em sala, me botou pra pensar e pra recordar.

Você sabe quando sente cheiro de algo ou ouve músicas que te fazem lembrar exatamente de um determinado espaço/tempo? Isso aconteceu quando ouvi aquele vozerão grave do Wagner (professor). Lembrei do meu all star verde, das inúmeras cervejas na pamonharia com os novos amigos, das farras com os antigos, que hoje estão fora de Goiânia, dos meus tempos de teacher no Chicago. De quando eu tinha tardes livres para passar na biblioteca resolvendo os exercícios de lógica e do dia que fui ao quadro resolver um, acertei e fiquei feliz a ponto de até hoje não ter esquecido disso (o bicho pegava nessa disciplina!).


A verdade é que eu não tinha nem ideia do que era estudar filosofia. Nem pra quê isso serviria. De lá pra cá duas coisas aconteceram, de relevante. Pro desgosto de Wagner, eu não continuei a estudar lógica nem nada parecido. Minha grade é escancarada (diferente de aberta) o que me fez optar majoritariamente por disciplinas de filosofia política, por afinidade (descobrir o que se gosta em filosofia é uma grande coisa, demorei 1 ano e meio). A outra coisa é que estudar filosofia por três anos não me fez palpitar sobre fenomenologia, provar a existência de Deus, muito menos ganhar muito dinheiro. O efeito mais visível e denso até agora é um: eu fiquei muito chata e exigente. Ela te faz duvidar ou criticar (mentalmente, tb não fico verbalizando) quase tudo que se ouve por aí. E se os meus conselheiros falavam que a filosofia ia 'me ajudar' no jornalismo, ela, muitas vezes, me deixa é muito irritada com o que temos nessa área.


Ok, tudo isso pra falar da aula magna que tivemos no jornalismo na quarta-feira. Bem, o tema era: "Universidade: o caminho rumo ao sucesso profissional". Minha mãe e meu pai, nascidos de pais que não tinham nada pra deixar pros filhos ficarem brigando e da geração que começava a ralar cedo, precisavam da universidade para ter futuro profissional. Juro que não quero dispensar linhas falando dos novos passos pro sucesso, além de meramente estar na universidade. As livrarias estão cheias de best-sellers pra isso. Mas, sinceramente, ter ideia de que universidade serve para se ter sucesso profissional, e só, é coisa do século passado. Acho que quem sugeriu esse tema deve ter adorado a mudança de UCG para PUC, afinal, os curriculos vão ter mais uma estrelinha e isso é ótimo pros futuros profissionais. Mas ela não sabe que o que fez a universidade tornar-se PUC foi justamente o tripé: ensino, pesquisa e EXTENSÃO.

O Jornalismo dá passos de formigas para se desenvolver nisso, atuando hoje somente com projeto Ciranda e Semana de Cultura e Cidadania da universidade. Se há outros e não estou sabendo, identifico aqui outro problema. Não vou ser cruel e, de forma alguma, extender a crítica à PUC, que tem realizado e crescido muito em extensão. A Semana de Cultura e Cidadania não me deixa mentir. Mas, inevitável comparar. Enquanto a aula magna do jornalismo tem esse tema e chama ex-alunos recém-formados para mostrarem o quanto estão bem sucedidos aos 25 e falam o que temos que fazer para ser iguais a eles, o DCE da UFG convida Dom Tomás Balduíno para uma palestra com tema "A ciência em debate: por uma universidade popular". Ano passado o tema era "Universidade para Comunidade".

Agora em março começa um curso de especialização que é resultado da parceria entre UFG e Pontão de Cultura República do Cerrado. O objetivo é capacitar as pessoas que atuam nos pontos de cultura e a longo prazo pensam em capacitar também quem não tem graduação, realizar festivais, feiras, ou seja, extender mesmo a universidade à sociedade. Os projetos de incubadoras da UFG também estão aí pra provar que ela valoriza extensão, os alunos estão envolvidos e as ações interferem mesmo na sociedade de maneira afirmativa.

Bom, na verdade eu espero que em poucos anos o jornalismo da PUC possa fazer uma aula magna com tema relacionado à extensão e chamar para compor a mesa alunos que tenham a falar sobre a experiência de certo projeto de extensão que tenha trabalhado, e não quantos 10's tiraram e monitorias deram para que conseguissem chegar à redação de não sei aonde ou direção de marketing de não sei que empresa.

2 comentários:

  1. E aí que eu sou suspeitíssima pra falar, mas acho que o tema da aula magna da PUC foi esse porque, querendo ou nao, a PUC, por ser particular, depende também de publicidade para angariar cada vez mais alunos. A UFG, por ser pública, nao tem esse tipo de preocupacao (ainda bem), mas tem sim (teoricamente) que mostrar servico pra sociedade, justamnete por seu caráter público. Pode ser que a diferenca esteja aí. Mas, como dito antes, sou muito suspeita pra falar...

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  2. Ana, concordo que a UFG acaba tendo uma responsabilidade maior sim (e deve mesmo) de abordar temas como esse e, de fato, realizar extensão por tratar de dinheiro público, de todos, inclusive de quem não está na UFG. Mas não quer dizer que a PUC não deve ter esse compromisso. Primeiro que universidade não é simplesmente lugar de ensino, hoje tem esse caráter. Mas isso deve ficar pras uniqualquer coisa que tem nos quatro cantos. Querendo ou não, ela não é uma dessas. Segundo porque, apesar de privada, a PUC acaba por receber muita isenção de impostos, que, em minha opinião, é motivo para que se volte mais à sociedade.

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e aí?